Confira se você tem vivenciado esses sinais de alerta
Imagine que você acorda, pega o celular, checa mensagens, corre para se arrumar, resolve demandas do trabalho, cuida da casa, responde e-mails, tenta encaixar um almoço rápido, se irrita com algo no trânsito, finaliza o dia exausta… e repete tudo de novo no dia seguinte.
Sem perceber, você entra no modo piloto automático: vivendo sem realmente estar presente.
Essa forma de viver parece “normal” hoje em dia. Mas, com o tempo, ela corrói o seu bem-estar de forma geral. Se você sente que está apenas executando tarefas no dia a dia, sem realmente estar presente e vivendo momento a momento, nesta conversa eu convido você a observar os sinais de uma vida no piloto automático e como ela afeta o seu bem-estar.
Sinais de que você está vivendo no piloto automático
Alguns sinais comuns de que estamos vivendo no modo automático, são:
- Não lembrar direito como foi o dia
Você chega ao fim da semana com a sensação de que tudo passou rápido demais, mas sem conseguir lembrar de detalhes importantes do que viveu. As horas viram um borrão.
- Fazer muitas tarefas, mas não sentir a sensação de realização
Você risca itens da lista de afazeres, mas sente que falta algo. A produtividade por si só não traz satisfação.
- Não reconhecer, nem acolher emoções e sentimentos no momento em que se manifestam
Imersa no próprio fluxo mental, focada nas atividades e atendendo demandas externas, você não percebe o que sente. Logo, também não consegue acolher a sua experiência emocional. Pensamentos e emoções emergem e modificam o seu estado de humor. Com isso, aumenta a sobrecarga emocional, os conflitos internos e os sintomas de estresse e, até mesmo, problemas de saúde mental mais graves como ansiedade, depressão e burnout.
- Ter dificuldade de se concentrar
Sua mente está sempre acelerada, pensando no que já passou ou no que ainda precisa fazer. Perde-se em divagações mentais no meio das atividades ao longo do dia ou mesmo durante uma conversa.
Por exemplo, Oliver Burkeman, colunista do jornal The Guardian, conta: “Geralmente sou feliz, mas de vez em quando sou atingido por um estado de infelicidade e ansiedade que se intensifica muito rápido. Nos piores dias, sou capaz de passar horas perdido em divagações angustiantes, refletindo sobre grandes mudanças que preciso fazer em minha vida. De repente, percebo que me esqueci de almoçar. Como um sanduíche de atum e o mau humor desaparece. No entanto, minha primeira reação à sensação ruim nunca é pensar que estou com fome. Aparentemente meu cérebro prefere se chatear com reflexões sobre a falta de sentido da existência a me direcionar até a geladeira.” (Williams e Penman, 2015).
- Não consegue relaxar nem nos momentos de descanso
Está constantemente pensando nas suas responsabilidades ou mexendo no computador/celular enquanto assisti um filme, série, lê um livro, faz um hobby ou pratica atividade física. Parar parece perda de tempo, mas continuar também não traz alívio.
- Viver se sentindo cansada
Mesmo dormindo uma noite inteira ou tirando um dia de folga, você ainda acorda cansada ou sem disposição para o que realmente importa.
- Sente que perdeu o controle sobre sua rotina
As demandas do dia a dia te controlam. Você sente que está apenas “apagando incêndios”, sem tempo ou energia para o que realmente gostaria de fazer por você.
- Parece que a mente nunca está no mesmo tempo e local que o seu corpo
Tem dificuldade de se conectar e apreciar o que está acontecendo no momento presente: aqui e agora.
Se você se identificou com dois ou mais desses sinais, esse é um alerta gentil: você está vivendo no piloto automático.
O caso de Lucy
Quando estamos vivendo no piloto automático, no longo prazo podemos passar por cenários parecidos com o vivenciado por Lucy:
“Aparentemente, Lucy era uma representante de vendas bem-sucedida de uma rede de lojas de roupas. Mas ela estava se sentindo paralisada. Às três da tarde, olhando pela janela do escritório, estressada, exausta e totalmente indisposta, ela se perguntava:
Por que não consigo fazer o meu trabalho direito? Por que não consigo me concentrar? O que há de errado comigo? Estou tão cansada! Nem consigo pensar direito…
Lucy vinha se punindo com esses pensamentos autocríticos constantemente. Mais cedo, naquele dia, ela tivera uma conversa longa e ansiosa com a professora do jardim de infância sobre sua filha, Emily, que andava chorando quando era deixada na escola. Depois, telefonou para o bombeiro para saber por que não tinha ido consertar a descarga quebrada em sua casa. Agora, fitava uma planilha, sentindo-se sem energia e mastigando um muffin no lugar do almoço.
As exigências e tensões na vida de Lucy estavam piorando gradualmente nos últimos meses. O trabalho se tornava cada vez mais estressante e começava a se estender até bem depois do horário do expediente. As noites haviam se tornado insones, os dias, mais sonolentos. Seu corpo começou a doer. A vida perdeu a alegria. Seguir em frente era uma luta. Ela já estava se sentindo assim antes, mas sempre fora uma situação temporária. Jamais imaginara que aquilo poderia se tornar um aspecto permanente na sua vida.
Ela vivia se perguntando: O que aconteceu com a minha vida? Por que me sinto tão exausta? Eu costumava ser feliz. Para onde foi a minha alegria?
A vida de Lucy girava em torno de excesso de trabalho, infelicidade, insatisfação e estresse. Ela fora privada de sua energia mental e física e se sentia perdida. Queria voltar a ser feliz e estar em paz consigo mesma, mas não tinha ideia de como chegar lá. Sua frustração não era grave a ponto de justificar uma ida ao médico, mas era suficiente para solapar o seu prazer de viver. Ela não vivia, apenas sobrevivia. (Williams e Penman, 2015).
A história de Lucy pode ser a de muitas pessoas com as quais nós cruzamos no dia a dia. Pessoas que estão ausentes na sua própria vida, dominadas por preocupações, estresse, ansiedade e exaustão… não estão deprimidas nem ansiosas, mas também não estão se sentindo bem consigo mesmas e não são felizes de verdade.
O que está por trás do modo piloto automático?
Com base na nossa conversa até aqui, o que você acredita que alimenta esse modo de vida no piloto automático, preocupações, estresse e exaustão?
Por ora, me deixa saber quais são as suas suspeitas.
Na próxima conversa revelo o que “sequestrou” a qualidade de vida, felicidade e bem-estar no dia a dia de Lucy e que pode estar sequestrando na sua vida também.